Após se transformar em uma das instituições mais respeitadas desde a reformulação pela qual passou, no início dos anos 2000, a Polícia Federal registrou as maiores crises de sua história durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e viu sua imagem arranhada por suspeitas de interferência política.
Crises em sequência e trocas de comando —foram quatro diretores-gerais até outubro de 2022, o maior número em um só mandato desde a gestão FHC (PSDB)— expuseram rachas internos e enfraqueceram o órgão a ponto de questões políticas interferirem na nomeação de delegados para cargos de chefia.
Como mostrou a Folha, de forma inédita na história da PF, uma ingerência política barrou em abril deste ano a tentativa da cúpula do órgão de trocar o então superintendente em Alagoas Sandro Valle Pereira.
Também pela primeira vez foram formalizadas na Justiça denúncias de suspeitas, por duas vezes, de interferências políticas na PF. A primeira, denunciada pelo hoje senador eleito Sergio Moro. A segunda, em junho, pelo delegado Bruno Calandrini, responsável pela operação que prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.
O primeiro caso foi arquivado. Já o episódio ligado ao Ministério da Educação aguarda manifestação da Procuradoria-Geral da República e da ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia.
No caso mais recente, o ministro da Justiça, Anderson Torres, afirmou ter encaminhado à PF um pedido para abrir inquérito sobre os institutos de pesquisas eleitorais, um movimento alinhado aos ataques de Bolsonaro devido à disparidade com o resultado do pleito divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Além disso, no governo atual, nomeações de delegados para cargos internos em superintendências foram barradas pela direção-geral, como nos casos do ex-coordenador-geral de repressão à corrupção Thiago Delabary e de Franco Perazzoni, que investigou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.