Devido à relação que mantém com jornalistas e veículos de comunicação, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu entrar para um ranking em nível internacional. Agora, o mandatário brasileiro pertence ao nada honroso grupo de “predadores da liberdade de imprensa”, conforme definição utilizada pela organização não governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras. A presença dele na lista foi confirmada pela entidade na segunda-feira, 5.
O relatório da Repórteres Sem Fronteiras é atualizado anualmente e é a primeira vez que o nome do atual presidente do Brasil aparece. Na edição deste ano, 37 chefes de Estado espalhados mundo afora são definidos como “predadores da liberdade de imprensa”, informa a Radio France Internationale. No geral, Bolsonaro surge em companhia de políticos considerados de esquerda — espectro rotineiramente criticado por ele. Vladimir Putin (Rússia) e Nicolás Maduro (Venezuela) são alguns dos outros presidentes na lista.
No material divulgado hoje, a equipe da ONG Repórteres Sem Fronteiras não poupou críticas diretas a Bolsonaro. De acordo com a entidade, o político atualmente sem partido não tem contribuído em nada para melhor o ambiente de trabalho dos profissionais de comunicação. Pelo contrário, analisa a organização. “O trabalho da imprensa brasileira se tornou especialmente complexo desde que Jair Bolsonaro foi eleito presidente, em 2018”, afirma-se.
Mais do que isso, a ONG atribui ao ocupante do Palácio do Planalto atitudes contra o livre exercício da profissão jornalística e a plena liberdade de expressão. “Insultos, difamação, estigmatização e humilhação de jornalistas passaram a ser a marca registrada do presidente brasileiro”, pontua trecho do relatório. A chegada da pandemia do novo coronavírus ao país só piorou a situação. “Expôs sérias dificuldades de acesso à informação no país e deu origem a novos ataques do presidente contra a imprensa, que ele rotula como responsável pela crise e que tenta transformar em verdadeiro bode expiatório”, destaca o conteúdo.
Em relação ao Brasil, a ONG Repórteres Sem Fronteiras foi além de tecer críticas à postura de Jair Bolsonaro diante dos jornalistas. Sem citar nomes de grupos do setor de comunicação, a entidade lembrou que “a mídia brasileira ainda é bastante concentrada, principalmente nas mãos de grandes famílias, com frequência próximas da classe política”.
A família do ex-presidente da República e atual senador por Alagoas, Fernando Collor de Mello (Pros), é dona de afiliada da Rede Globo de Televisão, que tem na família de outro ex-mandatário do país — José Sarney — à frente de sua afiliada no Maranhão. O atual ministro das Comunicação, Fábio Faria (PSD), é casado com Patrícia Abravanel, uma das filhas do apresentador Silvio Santos, dono do SBT. Faria chegou a fazer ponta como figurante em propaganda da Jequiti, marca de cosméticos idealizada por sua mulher.
A edição 2021 do relatório apresentado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras conta com “velhos tiranos”, conforme definição a respeito de quem surge frequentemente na lista de “predadores da liberdade de imprensa”. Além dos já mencionados Bolsonaro, Putin e Maduro, o ranking traz nomes como os de Bachar al-Assad (Síria), Ali Khamenei (Irã), Alexandre Lukashenko (Belarus), Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (Guiné Equatorial), Paul Kagamé (Ruanda) e Issaias Afwerki (Eritreia).
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, é outro personagem na lista da ONG. Ele é acusado por órgãos internacionais de ter sido o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Saudita crítico do governo local, Khashoggi foi morto em outubro de 2018 dentro do consulado da Arábia Saudita na Turquia.