Dentro de 48 horas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) espera ter conseguido encher as ruas do País com apoiadores presentes a atos do 7 de setembro, feriado da Independência, para o qual vem convocando a tropa pessoalmente há cerca de três semanas.
O chefe do Executivo tem suas razões: sob pressão de investigações no STF e na CPI da Covid e da baixa popularidade, o dia nacional, de amplo apelo patriótico, é uma das cartadas mais altas de que Bolsonaro lança mão para recuperar o terreno perdido e se mostrar viável para 2022.
O que parece uma jogada estratégica embute, porém, um alto risco, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO, que trabalham com dois cenários. Um é de atos com grande adesão nas capitais, na esteira dos quais o presidente poderá esgarçar mais ainda as relações com o Judiciário, sobretudo com membros do Supremo.
Outro é o fracasso da mobilização para o 7/9, cujas consequências podem ser tanto a radicalização do discurso bolsonarista quanto o aprofundamento da dependência do capitão da reserva nas mãos do centrão, bloco que controla a agenda política do governo e, no comando do Congresso, tem a chave das pautas que podem fragilizar ainda mais o Executivo.
Num caso como no outro, o feriado pode se tornar um divisor de águas no choque de Poderes da República estimulado pelo próprio Bolsonaro, que tem empregado energia no ataque direto a Luis Roberto Barroso, presidente do TSE, e Alexandre de Moraes, relator nos inquéritos que têm causado mais dor de cabeça ao líder da nação.
“Realmente é um teste de ruas, de forças e de popularidade do presidente. Mas claro que isso pode se voltar contra ele mesmo”, analisa Priscila Lapa, doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Para ela, Bolsonaro está numa encruzilhada: de um lado, fortalecimento de discurso e narrativa e, de outro, a ideia de que está cada vez mais isolado, caso não obtenha “a adesão que ele imagina que pode vir a ter, apesar dessa mobilização intensa”.
Segundo Lapa, a escolha do feriado do 7/9 por Bolsonaro não é casual. O objetivo, ela aponta, é reagrupar as bases que estavam dispersas, principalmente depois dos estragos causados pela CPI, do mau desempenho da economia e da piora em outros índices que conferem estabilidade a qualquer gestão. Para tanto, o presidente recorre a elementos que constituem sua gramática política mais fiel.
“Essa é uma data que historicamente no Brasil tem esse simbolismo de declaração do amor à pátria, então eu acho que vai por essa linha do que simboliza para o povo brasileiro o 7 de setembro, fazendo essa identificação que existe entre o bolsonarismo e esses símbolos nacionais, especialmente a bandeira e as Forças Armadas como representação da ordem”, avalia a pesquisadora.